sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Yoga com pessoas cegas - encerramento 2016


Na última segunda-feira, dia 05 de dezembro, realizamos a nossa última prática de Yoga do ano no Instituto de Pessoas Cegas em Recife. O Instituto entrará em recesso, mas ano que vem continuaremos firmes e fortes nesse projeto que tem sido um dos maiores aprendizados que eu poderia ter nessa vida.
Desde que o projeto começou em Abril (a partir da doação tapetinhos, tijolinhos e faixas por amigas e até por uma desconhecida que tive o prazer de conhecer a posteriori), mudanças aconteceram. Pelo menos dois alunos (uma aluna e um aluno) tiveram que ir para as cadeiras (não estava sendo possível, pelos sérios problemas de saúde, continuarem nos tapetinhos), mudamos de sala, tivemos que nos adaptar às mudanças eles e eu, e hoje eu posso dizer, sem sombra de dúvidas, que os grandes aprendizados de vida, neste ano, tive com eles. São minhas fontes de inspiração.







Muitas vezes é muito cansativo, não vou negar. Já tive momentos em que me arrependi de ter ultrapassado o número de cinco, pois a demanda é grande e eu fui aprendendo enquanto tudo acontecia: momento de entrada na sala- todos ao mesmo tempo - tropeçando algumas vezes um no outro - lugar para sapatos, bolsas, desligar celular – “qual é a tecla para desligar?” – Respira – Inspira – Expira - Descrição densa da Ásana - O celular toca - “de quem é a bolsa, de que cor é a bolsa?” (gafes e mais gafes, perdão!) - momento de levantar - todos ao mesmo tempo - é a hora do lanche - tem que ir para não perder a hora do lanche - procurar os sapatos - um abraço na professora – “Onde estão os óculos?” - Outro abraço na professora – “Onde estão as bengalas?” Obrigada, professora! Obrigada, meus amores! Obrigada, Dona Neide, Sr. José Carlos, Dione, Sr. Máurio, Ester, Sr. Reinaldo, Dona Alba, Jane, Dona Helena, obrigada!
Há sete anos aproximadamente sei que tenho comprometimento nas córneas e há um ano resolvi encarar este e outros (des) caminhos que me trouxeram para o momento presente. Muitos aprendizados e infinitas possibilidades. Sou grata por tudo. Graças a vocês, eu me sinto uma pessoa melhor. 
Hoje somos onze, vocês e eu. Termino o ano sabendo que preciso estudar mais, no mínimo, sobre a velhice e cegueira. 
A vida é simples. Muito simples. A gente só precisa ter atenção e presença.
Obrigada, vida!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Aparigraha ou não possessividade

Algo que me foi extremamente impactante no processo de formação em Yoga foi o conhecimento da existência dos preceitos éticos - Yamas e Niyamas. Alguns deles eu já tinha entrado em contato de algum modo - ahimsa (ou não-violência) certamente já tinha ouvido algumas vezes, assim como tapah ou tapas (esforço sobre si mesmo), mas eu não sabia que nesse caminho do yoga existia uma coisa tão elaborada e com tanto sentido para a vida como são os Yamas e Niyamas.
É fim de ano e, como sempre, realizo faxinão. É tempo, como em qualquer tempo, aliás, de desapegar. Nesse sentido aproveito as conexões mentais para enfatizar o Yama Aparigraha que significa "Não-possessividade" ou "Desapego". Há alguns anos eu ouvi uma história de um macaquinho e ela só veio alimentar algo que tenho dentro de mim - o desapego de coisas. Quando criança e adolescente morei em muitos lugares. Quando começava a fincar raízes meu pai era transferido em seu trabalho e lá íamos nós (eu e meus irmãos) nos adaptando a outros tempos e espaços. Apesar de ser bem desapegada de coisas, não tenho a mesma facilidade com as pessoas ou com a ideia que acabo construindo sobre as mesmas. Antes eu não tinha clareza sobre isso, e ter essa clareza tem facilitado esse processo doloroso de abrir mão, deixar ir, deixar ser fim, aceitar a impermanência de tudo, buscar outros caminhos, "largar as bananas".
A história do macaquinho é uma pequena e triste história sobre a ausência de habilidade com o desapego. Sempre penso nela quando estou diante de situações me transmitem alguma sensação de aperto, limitação, prisão, ou seja, qualquer coisa que limite minha expansão, meu respiro, meus espaços. Fui tentar a história na internet para talvez contá-la com mais detalhes e a encontrei num blog de conteúdo empresarial, o que achei bem curioso (o link segue abaixo). A história conta que "Tribos africanas desenvolveram um método inteligente para capturar os macacos, animais que pulam de galho em galho entre as árvores que dificultam a sua captura. A armadilha funciona com uma banana como isca dentro de uma vasilha feita com boca estreita, onde o macaco coloca a mão dentro mas não consegue tira-la fechada agarrando a banana. Por instinto, o animal continua tentando pegar a banana mas acaba com um final trágico, capturado pelos nativos como alimento".
O macaquinho podia tirar a mão de dentro da garrafa, mas para isso ele precisava abrir mão da banana. Parece fácil olhando de longe, mas a maioria de nós primos-irmãos dos macaquinhos estamos cotidianamente caindo em armadilhas que nos prendem (adoecendo, silenciando, matando aos pouquinhos) simplesmente porque estamos apegados às bananas ou à ideia que fazemos dela. Identificar a banana que te prende e se desapegar dela é um passo decisivo na vida. Liberar-se de objetos antigos (ou sem uso), de relacionamentos tóxicos, de concepções de trabalho e de relacionamentos é uma imensa porta para liberdade. É espaço em todos os sentidos. Expansão, pulsação.
Aparigraha é liberdade. É vida.
(https://laboratoriumbr.wordpress.com/2012/06/21/larga-a-banana-mude-de-estrategia-para-nao-cair-na-armadilha-do-macaco/)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Dança e técnicas aplicadas à saúde

Os escritos a seguir resultam dos estudos relativos ao Módulo Dança e Técnicas aplicadas à saúde (Educação Somática) . 
Deveria ter uma linguagem acadêmica, com direito a citações e regras da ABNT, mas o meu momento é poesia. Tenho respeitado o meu momento.








Das somas de tanto
fui gerada
e
por agora existo.
 Adiciono-me,
 multiplico-me,
 dividido-me.
Somo.  
Retiro-me do ontem e do amanhã
para o agora
em alma e corpo
Estou.
Soul e Soma,
Sou.

08/11/2016

Do contato com a dança aprendi a me sentir à vontade com minhas possibilidades, gestos, quebras, circularidades. Aprendi a acompanhar o giro do olhar pelas mãos, e entendi os riscos, traços e rabiscos dos meus passos seguros ou cambaleantes pelo solo, com as texturas, cores e sabores da minha pele.
A dança é um sonho que torno realidade a cada movimento que meu corpo ensaia, a cada tridimensionalidade que meu horizonte espreita, a cada conhecimento que meus poros absorvem ou expurgam, por cima, baixo, dentro, fora, tórax – cabeça – costela, pelve-cabeça, cabeça-tórax, externo-interno.
Meu corpo, matéria prima de poesia. Soma.
Caminho pelo espaço que é meu – cinesfera - lugar dos meus ruídos. Meus. Estes por dentro do espaço que também é do outro – global. Perco-me e alí me encontro. Nada sou além de mim em minha composição corpórea, biológica, sensório-motora e isso é estar plena. Esse nada é tudo.
Transgrido-me pela variação dos meus circuitos, escolho entre diferentes caminhos aquele que me parece o mais apropriado, caminho pelos novos conceitos que adentram meus sentidos. Minhas experiências. Minhas fontes de conhecimento.
Verticalização, horizontalização. Sento, deito, em pé caminho, foco o outro, o outro me foca. Sou afetada. Crio-me e recrio-me, reinventando sistemas autopoiéticos. Sou a ameba da enação. Carrego em mim a memória do que sou. Minha saliva, minhas vivências, minhas relações, minhas práticas, meus automatismos, meus não-sei-o-quê.
Alexander – Mathias e Gerdha, Feldenkrais, Vianna, Thomas Hanna, Sylvie Fortin, amebas contorcidas em torno self. Dedos dos pés, couro cabeludo, pele, temperaturas, marcas, cicatrizes, ossos, calos, nervos, peso, volume. Tônus. Subversão do mecanicismo, conexões corpo, cérebro, ambiente – sinestesia. Na parte do meu corpo que toco há política, na parte do corpo que não me toca também.
Em mim, sozinha ou com o outros, cartografias de afetos desenhadas em oposição ao ethos moderno do desamor – o não toque, o não saber, a desapropriação, despropriocepção. Na oposição, escuta interna, micromovimentos, observação, intuição, ética transbordada pela potência dos afetos: “quanto um corpo pode ser afetado?”
Afeto-me pelas entranhas em contato com a criação que fiz de mim – pulmões como asas! – “Ah asas, por favor, voem!” , corpo no chão como semente: “Ah semente, por favor, germine!”. Não por favor atravesso-me por vetores. Aceito-os. Descubro-os como soma. Juntos. Corpo. Usufruo: metatarso, calcâneo, púbis, sacro, escápulas, cotovelos, metacarpo. O que dizes de mim sétima vértebra cervical?
Meu corpo fala de mim. Não. Ele se diz de si como quem pula sobre a própria sombra. No pulo: a queda. O chão que acolhe. Momento do reconhecimento das fontes de apoio do corpo no chão e no espaço. Espaço da dor, mas também da cura.
Cura.

Soma. Soul. 

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A purificação dos olhos – Trãtaka ou Tratak

Yoga é um mundo. Um infinito. Entre as tantas coisas que existem em Yoga estão as purificações ou Satkarmas (as seis ações purificadoras): dhauti (purificação do trato digestivo), vasti (lavagem intestinal com água salgada), neti (com um pano ou com água), Trãtaka (purificação dos olhos com exercícios visuais), nauli (auto-massagem abdominal), kapalabhati (limpeza das vias respiratórias).
Uma das minhas “descobertas” mais espetaculares em relação ao Yoga foi perceber que eu tinha muitas mais partes em meu corpo do que eu mesma supunha e, mais que isso, que para todas elas existia uma técnica ou orientação específica por meio do Yoga. Do material para o sutil é o caminho indicado, e no material estão também os nossos olhos e pelos caminhos dos olhos, os músculos, a concentração, o olhar interno.
Hoje, bem cedinho, exercitamos o Trataka (como na imagem), e o fizemos pela fixação do olhar a partir de um objeto, a vela (um objeto imóvel). 



Esta foi a nossa escolha hoje, mas Trataka pode acontecer tanto a partir de um objeto ou ponto imóvel, tal como entre as sobrancelhas ou ponta do nariz, quanto de um objeto ou ponto que se desloca como, por exemplo, um polegar que dança lentamente enquanto os olhos o acompanham (como está na imagem a seguir retirada do livro Yoga para nervosos). 




Há ainda, a possibilidade fixar o olhar sobre uma estrela ou sobre a lua, o que me parece muito prazeroso e até poético.
A partir desse exercício caminhamos em busca do fortalecimento dos olhos, do estímulo às glândulas lacrimais e ao cérebro através dos nervos ópticos, e do desenvolvimento da concentração. Há ainda entre seus efeitos a diminuição da agitação e o combate ao estresse e a insônia.  
Para descansar os olhos ao fim dos exercícios é possível tanto massagear os supercílios com os dedos indicador e polegar, quanto aquecer os olhos com a energia gerada pela fricção das palmas das mãos que deverão se assentar sobre os olhos abertos.
É sempre bom realizar algum exercício ocular ao fim do dia, ou mesmo após horas de trabalho em frente ao computador.
Espero que tenha sido um artigo interessante. Bom dia e saudações.

Referências:

FEUERSTEIN, Georg. Enciclopédia de Yoga da Pensamento. São Paulo, Pensamento, 2005.
KUPFER, P. Formação em Yoga - Módulo 1, 2015.
HERÓGENES, J. Yoga para nervosos. Rio de Janeiro: Nova Era, 2005.
PACKER, M. L. G. A senda do Yoga – Filosofia, Prática e Terapêutica. Blumenal: Nova Letra, 2009.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O Mahabharata e eu

O Mahabharata e eu.

Sei de duas coisas:
- Sobre as escrituras sagradas nada sei, e respeito profundamente quem estuda e sabe.
- Sei de análise do discurso e o que significa cultura do estupro, e respeito o que sei.

Dito isto ouso escrever sobre algo que me incomodou demasiadamente ao entrar em contato pela primeira vez com o Mahabharata. Segundo a Wikipedia “O Maabárata é visto por alguns autores como o texto sagrado de maior importância no hinduísmo, e pode ser considerado um verdadeiro manual de psicologia-evolutiva de um ser humano. A obra discute o tri-varga ou as três metas da vida humana: kama ou desfrute sensorial, artha ou desenvolvimento econômico e dharma, a religiosidade que se resume a códigos de conduta moral e rituais. Além dessas metas, o Maabárata trata de moksha, ou a liberação do ciclo de tri-varga e a saída do samsara, ou ciclo de nascimentos e mortes. Em outras palavras, é uma obra que visa ao conhecimento da natureza do "eu" e à sua relação eterna com toda a criação e aquilo que transcende a ela”.
A primeira vez que entrei em contato com o Mahabharata não o li. Ele me foi contado e a um grupo de pessoas ao modo indiano, com foco na entonação da voz e uso de gestos corporais e faciais. Esses detalhes sei, fazem toda a diferença no sentido de um discurso, e até mais que o texto escrito, me provocaram sensações tão ruins que paralisei ao ouvir a narrativa de uma das primeiras “cenas” do Mahabharata, cuja autoria é atribuída a Krishna Dvapayana Vyasa, o grande sábio.
Eu não vou me estender muito, até porque pouco entendi dessa história que, em termos de genealogia, deixa Cem anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez, no chinelo. Eu quero expor um angústia, uma tristeza, uma raiva, uma decepção, tudo ao mesmo tempo, ao ouvir risos provocados pela narrativa do estupro de duas mulheres vítimas de Vyasa, o grande sábio, e narrador do Mahabharata. É forte a palavra que estou usando – estupro? Sim, é forte, tão forte quanto a história de duas irmãs que deveriam estar disponíveis sexualmente ao grande sábio Vyasa para que, nelas, ele fizesse “O” representante de uma dinastia que ameaçava ser extinta. “O” representante no masculino sim, pois todos os governantes, guerreiros, sábios, são homens, fortes, viris, SEMPRE. Às mulheres cabe o velho papel de mulheres belas, delicadas, cheirosas, divinas e, obviamente, reprodutoras. SEMPRE. Conta a história que Vyasa tinha aspecto assustador, que seus cabelos e barbas eram desgrenhados e suas unhas enormes, e que Ambika, a primeira irmã fechou os olhos durante a relação sexual e, por isso, o filho nasceu cego. Sabendo da experiência horrenda da irmã, Ambalika, a segunda, estava muito assustada e o filho nasceu pálido e com saúde frágil. 

Certamente, segundo estudiosos/as, o Mahabharata lança mão de imagens arquetípicas universais (o que ao meu ver pode ser questionável como qualquer outra justificativa em torno de qualquer obra considerada sagrada), a minha questão é que, apesar da alusão ao princípio de universalidade que os arquétipos encarnam, e considerando inclusive as especificidades regionais e históricas, parece-me inadmissível que a história das irmãs seja contada de modo a provocar risos, principalmente num meio que se propõe transformar as velhas formas do viver (parafraseando Gil) pelo caminho do Yoga. Se não é possível mudar o que está escrito, pelo menos que se conte de outro modo. É preciso não se distrair também dessa cultura que naturaliza a violência contra as mulheres e principalmente o estupro. É preciso não se distrair.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Sobre esforço e sobre Tapah/Tapas - “O voar não vem da asa”



Se o voar não vem da asa, de onde vem, então?
“Caminho que se faz ao andar” nunca fez tanto sentido para mim quanto nos últimos tempos. Yoga e dança povoando o pensamento e os temas de interesse pululando nas bibliografias, no corpo, na vida. De um lado referências em estudo do movimento, do outro lado referências em Yoga, e eu no meio desvendando meu corpo pelos caminhos apontados por aqueles/as que, de algum modo, fizeram o mesmo ao longo de suas vidas.
No livro “Yoga para Nervosos”  o professor Hermógenes fala, entre muitas outras coisas, de dois tipos neuróticos frequentes em seus espaços: aqueles que já desistiam do yoga mesmo antes de começarem a prática, e aqueles que encerravam a prática tão logo sentissem os benefícios iniciais. Para essas pessoas o professor Hermógenes recomendara, entre outras coisas: “Estude-se. Procure analisar-se sob este aspecto e, se notar inclinação a “cair fora”, eu lhe peço, não ceda. Continue”.
Continuar numa prática de Yoga significa (considerando os ensinamentos do professor Hermógenes): não luta, não medo, não violência e aquilo que nos interessa neste momento, esforço sobre si mesmo – Tapah ou Tapas. A questão é: se não tenho por onde começar, por onde começo? Se não tenho forças para, ao menos, iniciar meu próprio movimento, de onde devo começar? “Se o voar não vem da asa, de onde vem?” A resposta em bom “Yoguês” (neologismo, ok!) seria: vem de uma vontade e de uma coragem,  ambas conscientes, silenciosas e solitárias.
José Gil, em seu livro “Movimento Total – O corpo e a dança”, discorre sobre o início do movimento trazendo-o à tona a partir da seguinte referência à Laban: “Von Laban faz entrar em jogo uma noção central de sua teoria do movimento: o esforço e define-o como “impulso interior na origem de todo movimento” dançado ou não dançado”. Depois de uma série de desdobramentos, lança mão do silêncio relacionando-o ao vazio de quem se propõe movimentar - “Perante o vazio, está só, de uma solidão que o arranca para fora de si. Está só e fora de si”.
A aceitação da solidão como marco zero do esforço, assim como o acolhimento das tensões, instabilidades e desequilíbrios que nos atravessam a todos seres moventes parece ser a condição sobre a qual será possível gerar as energias capazes de impulsionarem asas, mesmo que sobre a elas, a olho nu, ainda não existam expectativas de vôo.
Quando o professor Hermógenes recomenda que o caminho seja o estudo de si mesmo/a como pressuposto para a permanência no caminho do Yoga, ele fala de um momento anterior em que o/a praticante em potencial assume uma postura ética diante do próprio caos, ou seja, inscreve em sua conduta Tapah, este Niyama (ou prescrição ética) que significa esforço sobre si próprio.
Espero ter contribuído de algum modo. Quando escrevo tenho a mim mesma como “objeto” de observação, e penso na dificuldade que é muitas vezes levantar da cama pela manhã, depois desenvolver disciplinadamente a prática sozinha e, ao longo do dia, manter-me firme em busca do que me torna uma pessoa melhor nesse mundo. Dentro da prática pessoal busco as ásanas que ajudam a desenvolver a vontade e a coragem, e elas serão certamente objeto do próximo post.

Saudações e bom dia para vocês!

Bibliografia de referência:
FEUERSTEIN, Georg. Enciclopédia de Yoga da Pensamento. São Paulo, Pensamento, 2005.
GIL, José. Movimento Total - O corpo e a dança. Lisboa, Relógio D´água, 2001. 
HERMÓGENES. Yoga para Nervosos, 
KUPFER, Pedro. Formação em Yoga. Curso Livre, Módulo 1. YogaBindu, 2015. 


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Boas vindas!

Eu estava com muitos planos para este blog. A maioria deles não deu certo. Depois de muito refletir pensei que era hora de colocar “no ar”, afinal ele nunca estaria pronto, assim como nunca estará pronta a minha própria vida. Pensando assim, uma série de coincidências felizes me fazem pensar que hoje, 12 de outubro de 2016, de fato, vem a ser um dia auspicioso para compartilhar com o mundo as minhas descobertas de mim enquanto caminho pelas veredas do Yoga e me lanço na dança, bem como outros renascimentos do meu corpo e alma. Apenas para falar de uma dessas coincidências, ontem pela manhã, num arroubo de desejo por fazer fluir essa ideia, pensei que hoje lançaria o blog. Enquanto isso, eu fui pesquisar vídeos sobre Butoh por ocasião de uma oficina com Yael (uma referência nos estudos na área), e encontrei algo que me emocionou (postarei posteriormente). Mais tarde, no primeiro dia de oficina, Yael falou de seu contato com Kazuo Ohno no Japão quando ele já teria mais de noventa anos. Ela disse que quando o olhou pensou no quanto ela mesma desejou dançar pelo resto de sua vida. Aquilo me emocionou de um jeito que tive que disfarçar no momento. A vida é repleta de nascimentos e renascimentos e o Butoh, mais que um estilo de dança, é uma filosofia de vida. Uma das frases de referência em Butoh é de Tatsumi Hijikata: "Novamente e, mais uma vez, vamos renascer. Não basta nascer do ventre da mãe. Numerosos nascimentos são necessários. Renascer sempre e em todas as partes. Mais uma vez e de novo." Eu a descobri há pouco, e ela tem tudo a ver com o meu momento.
Imaginar-se semente - o princípio de tudo. Semilla é semente na língua espanhola. Eu poderia ter colocado semente em português, mas quis criar em mim um sentimento de pertencimento com os países de língua espanhola da América Latina, países estes que se identificam entre si pela língua, pelas cores, pela história e, certamente, pela luta comum em torno das sementes crioulas. O pressuposto é o mesmo – soberania, independência, força, ancestralidade e verdade. Hoje também é dia da resistência Indígena na América Latina. Resistimos juntos. Dia da padroeira do Brasil, Senhora Aparecida ou, no Candoblé/Umbanda, Oxum. Dia das crianças. Um dia de força, boas energias e festas num contexto de muitos retrocessos. Resistência.
Nada disso seria possível sem Yoga. Este blog, a redescoberta de mim, do meu corpo e das minhas possibilidades criativas, meu caminho rumo à dança, a oficina de Butoh, nada disso seria possível sem Yoga. Respirar, olhar para dentro, sentir, viver, buscar minha autoperfeição pela compreensão e aceitação dos meus limites HOJE. Tudo pelo caminho do Yoga que em si mesmo é caminho.
Vocês encontrarão a partir de agora alguns artigos e dicas, e encontrarão no futuro mais artigos, mais dicas, entrevistas e outras coisas que acho que serão legais. No que diz respeito às dicas, a genética não tão generosa e longos períodos da vida vivendo de modo sedentário me fizeram ser uma boa cobaia de mim mesma e, por tabela, alguém que tem se ocupado com prazer do corpo de quem tem confiado a mim o aprendizado sobre seu próprio corpo por meio do Yoga.
Sejam bem-vind@s! Saudações!

*A obra de arte (rsrsrs) que vocês podem admirar fui eu mesma quem fez hoje nas primeiras horas da manhã. As sementes são de Cardamomo, excelente para o estômago, assim como para abrir as vias aéreas, e tantas outras coisas. 


sábado, 20 de agosto de 2016

Campo da Educação Somática e Hatha Yoga – Diálogos experimentados - Parte 3

Educação Somática e Hatha Yoga – articulações e adaptações 

“Sentemos todos no chão com as pernas cruzadas tocando os ísquios (esses ossinhos do bumbum) no chão”. Esta seria uma primeira orientação para um público jovem, saudável, e não-cego, mas para os participantes do projeto essa orientação deve ser: “Sentemos como for possível. Encostem-se na parede caso sintam necessidade. Sentem em uma cadeira caso não consigam, no dia de hoje, sentar no chão; Abram bem o peito. Deixem a coluna o mais retinha possível, e o pescoço seguindo alinhamento da coluna”. O que acontece: a coluna não consegue ficar reta, o pescoço tampouco (pois entre as pessoas cegas, muitas vezes, os ouvidos são os olhos, então para estimular o ouvido levam junto o pescoço na lateral, criando um vício corporal que, ao longo dos anos, tende a desestruturar a própria concepção sobre o que é ter o pescoço seguindo o alinhamento da coluna). Da mesma forma, o que são os ísquios? Flagrei um aluno com a mão no quadril enquanto orientava para que sentissem os ossinhos lá embaixo do bumbum perto da virilha. Não, ele não queria tocar em si. E eis mais um desafio - para mim e para eles.

Campo da Educação Somática e Hatha Yoga – Diálogos experimentados - Parte 2





Corpo na contemporaneidade, ou "Quem está realmente vivo, hoje?" Participam do projeto de Yoga com pessoas cegas e com baixa visão, quatro mulheres e um homem, todos na faixa etária de 50 a 75 anos (*agora em outubro são nove - seis mulheres e três homens). Por já serem adultos idosos (ou quase idosos), e também sedentários, seus corpos têm demandado adaptações constantes que, no caso, devem acontecer para além dos cuidados que normalmente já seriam tomados pelos limites que a falta da visão impõe. Apenas um dos homens é cego desde o nascimento, as demais perderam a visão gradativamente, e uma delas tem baixa visão. Além da idade avançada e sedentarismo, entre os seus relatos estão as seguintes doenças e inscrições médicas: pressão alta, glaucoma, câncer controlado, ansiedade, estresse, síndrome de pânico, diabetes, asma, cirurgias e transplantes, ou seja, um grande desafio para mim e para eles.
Nenhum deles, ao longo de suas vidas, realizou atividades físicas, e apenas uma das mulheres já havia praticado Yoga, mas desistiu porque estava perdendo a visão e sentiu vergonha dos erros que estava cometendo enquanto tentava realizar as Âsanas. São histórias assim, de corpos com pouca ou nenhuma consciência de suas infinitas possibilidades, rígidos pelas inconstâncias do espaço urbano, dos conservadorismos morais e pelo imobilismo próprio aos corpos contemporâneos que, pouco e pouco, são desveladas pela desconstrução dos valores pela mobilização sutil de cada pequena parte de seus corpos, dos seus “sentires” de suas subjetividades. 
Os valores normatizantes que pouco e pouco engessam e adoecem os corpos são a expressão genuína do poder sobre o corpo, como nos diz Peter Pál:
...o poder tomou de assalto a vida. Isto é, o poder penetrou todas as esferas da existência, e as mobilizou inteiramente, e as pôs para trabalhar. Desde os genes, o corpo, a afetividade, o psiquismo, até a inteligência, a imaginação, a criatividade. Tudo isso foi violado, invadido, colonizado; quando não diretamente expropriado pelos poderes. Mas o que são os poderes? Digamos, para ir rápido, com todos os riscos de simplificação: as ciências, o capital, o Estado, a mídia etc. Os mecanismos diversos pelos quais se exercem esses poderes são anônimos, esparramados, flexíveis (PELBART, 2007, p.57)

É pela possibilidade de construir um corpo novo que reage ao poder institucional ou capitalizado pela sobrevida que tanto o Hatha Yoga, quanto o campo de Educação Somática, se justificam. 
“A construção do corpo novo está vinculada à iniciação, o novo ‘nascimento’ do praticante. Constrói-se o corpo novo para perder a identificação com o ‘antigo’, vinculado a couraças de tensão muscular, saskãras e latências mentais. O Haţha Yoga quer dar um corpo novo ao praticante que ele mesmo irá construir, célula por célula, fibra por fibra. Usando esse novo corpo como instrumento, ele poderá avançar a passos largos em direção à meta do Yoga. O único que se precisa ter é muita disposição e força de vontade”. (KUPFER, 2009, p. 48)

“(...) a Educação Somática se coloca como uma via de descondicionamento: dispõem de uma vasta gama de estratégias pedagógicas para levar os alunos a ampliarem sua noção de corpo, refletindo sobre aquilo que chamam “meu corpo” como sendo muitas vezes uma entidade (de) formada por valores socioculturais. Os diferentes métodos de educação somática orientam a pessoa em um processo de empoderamento que passa pelo sentir o próprio corpo, negociando tempos e espaços”. (BOLSANELLO, 2012, p 3)

Como pode ser observado acima, em ambas linguagens, o parti pris é o corpo biológico, o corpo que o biopoder contemporâneo, segundo Agamben, reduz a vida à sobrevida biológica. 
“A sobrevida é a vida humana reduzida ao seu mínimo biológico, é a vida sem forma, reduzida ao mero fato biológico. É o que Agamben chama de vida nua”. Ainda de acordo com Peter Pál Pelbart, seria preciso retomar o corpo naquilo que lhe é mais próprio, na sua dor, no encontro com a exterioridade, na sua condição de corpo afetado pelas forças do mundo e capaz de ser afetado por elas. Seria preciso retomar o corpo na sua afectibilidade, no seu poder de ser afetado e de afetar

Tem sido com essa ideia em mente que tapetes, bloquinhos, faixas, bolinhas e o toque em si têm subsidiado essa retomada do corpo. Através da propriocepção pelo toque do corpo com as próprias mãos, por exemplo, uma participante redescobriu a cicatriz de uma cirurgia para retirada de um nódulo de câncer realizado há mais de 10 anos. Ela disse que tinha quebrado um tabu em relação a si mesma. Foi ali que percebi que estava no caminho certo. Seria necessário explorar esse toque o quanto fosse possível para chegarmos aos Âsanas propriamente ditos que, de algum modo, já requerem algum grau de consciência sobre o corpo. Provavelmente eu poderia receber críticas neste ponto, mas digo isto porque, entre os exercícios pensados e realizados com participantes, estão aqueles do Pavanamuktasana, que são muito suaves e indicados, entre outras coisas, para processos reumáticos, períodos pós-operatórios, para gestantes e idosos. A questão é que, mesmo o Pavanamuktasana, para o perfil dos/as participantes supracitado, já parece algo que demanda um momento anterior, e isso dá, certamente, por ocasião do limite da falta de visão, e é aqui que entra a educação somática em diálogo com o Yoga.


Campo da Educação Somática e Hatha Yoga – Diálogos experimentados - Parte 1


   





Este post que está dividido em três partes, trata-se na verdade de um artigo escrito para o V Congresso Internacional SESC de Arte/Educação que analisa as articulações entre os fundamentos da Hatha Yoga e o campo da Educação somática. O foco estará nas intersecções entre as referidas práticas que têm colaborado com o desenvolvimento do Projeto de yoga com pessoas cegas e com baixa visão realizado com o apoio da Escola Especial Instituto de Cegos, em Recife, Nordeste do Brasil. O projeto foi iniciado em abril do corrente ano e hoje conta com cinco participantes regulares (*atualizando: agora em outubro temos nove participantes). É sobre essa experiência, e a partir dos diferentes métodos em educação somática aplicados, tais como eutonia, interpretação do mapa gestual, ambitato, variação de circuito, automicromobilização e modulação respiratória, entre outras, de que fala o artigo.  O projeto foi idealizado por mim por ocasião de um problema pessoal de perda de córnea e tem por objetivo levar às pessoas os ensinamentos do yoga que, mais do que relativos apenas aos exercícios físicos, dizem respeito ao caminho rumo ao autoconhecimento por meio da consciência corporal e respiração consciente, elementos estes que são fundantes no campo da educação somática. 
Apenas a título de introdução, neste espaço que está reservado à arte e à educação, exponho aqui algumas ideias em torno do Yoga que significa união, mas também trabalho, aplicação, controle da mente e dos sentidos, transcendência do ego, ou caminho rumo ao autoconhecimento. Significa ainda liberdade, pois cultiva o discernimento como meio para destruir a ignorância. Por fim, Yoga não é a prática, mas o estado de consciência em que se entra quando são aplicadas as técnicas de respiração e as posturas (ou âsanas). 
O Hatha Yoga é um método de Yoga Tântrico que tem por fundamento o despertar por meio do esforço extremo, seja do ponto de vista físico, seja do ponto de vista mental. Tem entre seus principais fundamentos, a prática de âsanas (ou posturas confortáveis), prãņãyãma (ou controle da respiração) e também as purificações (şaţkarma, trãtaka, kapãlabhti, nauli, neti, dhauti e vasti).
Para o presente exercício dissertativo nos interessam todos os elementos do Hatha Yoga, isto porque na interlocução entre yoga e dança, todos/as estão presentes. As âsanas, por exemplo, despertam a estrutura biológica por meio de exercícios físicos; o prãņãyãma propicia mediante exercícios respiratórios contínuos, o controle do movimento da mente (FEUERSTEIN, 2005, p.180), e as purificações se assemelham àquilo que Artaud chama um corpo sem órgãos, isto porque os órgãos acumulam toxinas e aprisionam o corpo, e as purificações são a base para que se possamos nos desfazer de tudo que nos aprisiona.  
Toda a tematização do corpo sem órgãos é uma variação em torno deste tema biopolítico por excelência. A vida se desfazendo de tudo aquilo que a aprisiona. E o que a aprisiona, dentre outras coisas, é o que Artaud, na sua loucura, conseguiu formular; o que nos aprisiona é também o organismo, os órgãos. (PELBART, 2007, p. 64)

Sobre o projeto de yoga com pessoas cegas

O projeto foi iniciado em abril de 2016, e hoje conta com cinco participantes regulares. É um projeto muito recente, em pleno processo de experimentação, e o relato etnográfico a seguir é resultado das observações realizadas ao longo dos encontros. Para que cheguemos ao relato propriamente dito, e para uma melhor compreensão do processo, faz-se necessária uma breve consideração do meu encontro com um instrutor de yoga e uma bailarina, ambos cegos, e que se tornaram referências na prática de investigação corporal. Além disso influenciaram nas ideias que tornaram possíveis as adaptações e consequente subsídios para superação das dificuldades que certamente surgiriam ao longo do caminho. 
Figue Diel, professor de Yoga e surfista – Eu conheci Figue em Mariscal - SC, “terra” de surfistas de águas geladas. Ele era uma promessa do surf aos 16 anos, mas sofreu um grave acidente de carro e ficou cego. Esteve depressivo ao longo de 10 anos, e aos 26 anos (acho que essa é a história) se lançou na vida realizando, como eu, um curso de yoga.  Figue nos dias de hoje, além de surfista, é instrutor de yoga, e ele foi um dos professores que fizeram parte da minha formação a partir do curso livre para Formação de Instrutores/as de Yoga do professor Pedro Kupfer. A presença de Figue é digna de registro pois, há seis anos aproximadamente, realizo acompanhamentos periódicos da córnea, esta que é bem acabadinha como a de uma velhinha de 60 anos (segundo o oftalmo). Saramago, em “Ensaio sobre a cegueira”, fala do choque das pessoas quando estas constatam que estão cegas: “estou cego!”. Também assim é o choque quando a cegueira constatada é aquela que, em nada, tem a ver com o lado sensual da visão. Assim tem sido comigo desde o encontro com Figue, desde o encontro com Jô e com todas as pessoas cegas que tenho encontrado enquanto (re) conheço cegueiras de toda ordem em mim e no mundo. Jô, a bailarina – Ela faz parte do grupo Giradança, do Rio Grande do Norte - RN.   Foi com ela que aprendi (ainda mais do que a partir do Hatha yoga), que respiração é tudo. “Respira, gente! Respira!”, e assim, sentindo a respiração, Jô corre e dança em velocidade sem esbarrar em ninguém, como quem vê além do que está dado, além do corpo, simplesmente além. Ela ficou cega aos 23 anos. Perguntei-lhe como era sua vida antes de ficar cega e ela disse: “…mulher, eu não era gente”. Aquilo ficou muito marcado em minha memória, pois ela definitivamente havia refeito sua vida no sentido da liberdade após ter perdido o sentido da visão. Aguçara de modo complexo e, por vezes, perturbador, todos os outros sentidos em meio ao processo da dança, colocando em xeque a percepção das pessoas que, em tese, enxergam. A verdade é que somos muitíssimos limitados, e aqui não cabem metáforas, afinal, como disse Saramago, “só num mundo de cegos as coisas serão o que verdadeiramente são”. Acho que é bem por aí…
Tive a oportunidade de conhecer e compartilhar pelo menos dois dias ao lado de Jô graças ao Multiplicando Olhares, projeto de dança com pessoas cegas, do Coletivo Lugar Comum, que a trouxe do Rio Grande do Norte para nos ensinar a enxergar melhor o mundo na medida em que mergulhamos em nossas próprias cegueiras.  A partir do referido projeto aprendi que, para além das dificuldades, há sim muita liberdade entre pessoas cegas e com baixa visão. Entre as dificuldades, eu percebi, por exemplo, que se há um mundo machista para as meninas/moças que veem, esse mundo é ainda mais castrador quando as meninas/moças são cegas, isto porque a possibilidade da liberdade é inversamente proporcional ao conservadorismo de suas famílias (principalmente se têm preceitos religiosos fundamentalistas) de quem, com grande recorrência, dependem, quer seja para ter permissão para fazer algo, ou para “simplesmente” se locomover. No caso de Jô (que também relatou os “receios” de sua família), por já ser uma adulta ela assumiu a responsabilidade e as consequências sobre suas escolhas num contexto em que sair sozinha, e à noite, seja para um curso de dança, ou qualquer outro lugar, tem sido perigoso para qualquer mulher nesse país cujo feminicídio alcança números assustadores. 
A (não) acessibilidade é outro grande problema, seja no que diz respeito às calçadas, seja no que diz respeito aos transportes públicos. Estes são, com certeza, grandes problemas que limitam a vida de quem se lança na superação de outros limites, inclusive existenciais. Apesar deles, hoje sei que cegos/as têm facebook (e a tecnologia da “fala” tem sido maravilhosa e útil nesse sentido), cegos/as jogam futebol de salão, cegos/as dançam MUITO, cegos/as são namoradores/as, vaidosos/as, enfim, pessoas cegas são pessoas tais como aquelas que veem. O que as diferenciam é que elas precisam de um pouco mais daquilo que temos, mas também precisamos (e muito): respiração para que seus ouvidos sejam seus olhos, toques/tato/afeto para entender com as mãos o que seus olhos não alcançam, discernimento, pois nesse mundo de visionários a cegueira é coletiva, ou seja, o que as pessoas cegas precisam é o que todos/as nós precisamos quando da resistência à vida nua: respiração, autoconhecimento, afeto e sabedoria. 
Figue e Jô apontaram os caminhos dessa resistência que pula sobre a própria sombra pela consciência fina, finíssima, do próprio corpo.


Yoga para Crianças




Yoga para crianças é um tema que vem me encantando cada vez mais. Penso que atividades físicas na infância são tão essenciais quanto amigos, brincadeiras, espaços para correr, árvores para subir e cuidados da família. Atividades coletivas, acho eu, são ainda mais apropriadas, principalmente nos dias de hoje em que o individualismo é a ordem do dia. Em que pese que temos sido levados por essa onda individualista nos conhecemos muito pouco. Somos bombardeados/as por milhões de informações e, mal chegamos a processar umas poucas, já chega outra avalanche. Com ela (a avalanche), uma pressão enorme pelo acerto. Como já disse alguém (que não lembro quem), nós não temos tido o tempo do erro.

"Bexiga caída" e Yoga

Uma passagem rápida pelo google me dá a informação de que 40% das mulheres acima de 60 anos têm prolapso genital ou, como é comumente conhecida, “bexiga caída” ou "bexiga baixa". Muitas delas realizam a cirurgia que conhecemos como "suspensão de bexiga". Fortalecer essa região é uma maneira eficaz de evitar este e outros problemas que, nas mulheres, compromete o tônus da musculatura responsável pela segurança dos órgãos internos. Realizar o “Mula bandha”, ou contração dos esfíncteres do ânus, da vagina e da uretra (sempre em articulação com a respiração), é indicado para ambos os sexos, pois não só contribui para fortalecer a genitália feminina, como também contribui no controle do orgasmo, na manutenção do equilíbrio dos hormônios e no metabolismo dos órgãos internos. O melhor de tudo é que você pode realizar Mula bandha em qualquer lugar e a qualquer hora. Que tal começar agora? Saudações!


Fotos do livro: Anatomia da Yoga de Leslie Kaminoff e Amy Matthews

Joelhos e posturas de quatro apoios

Um dos aspectos que mais atrapalham algumas pessoas na hora de realizar alguma Ásana (ou postura confortável) é fazer pressão sobre os joelhos na postura dos quatro apoios (mãos e joelhos apoiados do chão). Uma dica simples e preciosa que assimilei à minha própria prática é a seguinte: fazer algumas dobras (como está na imagem abaixo). Você ainda pode utilizar uma toalha ou utilizar uma almofadinha reta, caso não comprometam sua estabilidade. Se o seu joelho continuar reclamando, talvez seja a hora de suspender as ásanas que requerem o apoio do chão e investir no fortalecimento dos músculos da perna, quadril/lombar e região abdominal (farei outro post dando dicas de ásanas com esse fim). Em qualquer situação é necessário evitar hiperextensão dos joelhos, ou seja, não deixar a perna tão reta que o joelho fique sendo empurrado para trás. É isso! Nada de forçar. Deixa o ego de lado porque você não deve nada a ninguém. Só faça o que for possível ao seu corpo HOJE! E claro, respira e se observa. A gente cresce se observando. Saudações!