Se o
voar não vem da asa, de onde vem, então?
“Caminho que se faz ao andar” nunca fez tanto sentido para
mim quanto nos últimos tempos. Yoga e dança povoando o pensamento e os temas de
interesse pululando nas bibliografias, no corpo, na vida. De um lado
referências em estudo do movimento, do outro lado referências em Yoga, e eu no
meio desvendando meu corpo pelos caminhos apontados por aqueles/as que, de
algum modo, fizeram o mesmo ao longo de suas vidas.
No livro “Yoga para Nervosos” o professor Hermógenes fala,
entre muitas outras coisas, de dois tipos neuróticos frequentes em seus
espaços: aqueles que já desistiam do yoga mesmo antes de começarem a prática, e
aqueles que encerravam a prática tão logo sentissem os benefícios iniciais. Para
essas pessoas o professor Hermógenes recomendara, entre outras coisas: “Estude-se.
Procure analisar-se sob este aspecto e, se notar inclinação a “cair fora”, eu
lhe peço, não ceda. Continue”.
Continuar numa prática de Yoga significa (considerando os
ensinamentos do professor Hermógenes): não luta, não medo, não violência e
aquilo que nos interessa neste momento, esforço sobre si mesmo – Tapah ou Tapas.
A questão é: se não tenho por onde começar, por onde começo? Se não tenho
forças para, ao menos, iniciar meu próprio movimento, de onde devo começar? “Se o voar não vem da asa, de onde
vem?” A resposta em bom “Yoguês” (neologismo, ok!) seria: vem de uma vontade e
de uma coragem, ambas conscientes,
silenciosas e solitárias.
José Gil, em seu livro “Movimento Total – O corpo e a dança”,
discorre sobre o início do movimento trazendo-o à tona a partir da seguinte
referência à Laban: “Von Laban faz entrar em jogo uma noção central de sua teoria
do movimento: o esforço e define-o como “impulso interior na origem de todo
movimento” dançado ou não dançado”. Depois de uma série de desdobramentos,
lança mão do silêncio relacionando-o ao vazio de quem se propõe movimentar - “Perante
o vazio, está só, de uma solidão que o arranca para fora de si. Está só e fora
de si”.
A aceitação da solidão como marco zero do esforço, assim
como o acolhimento das tensões, instabilidades e desequilíbrios que nos
atravessam a todos seres moventes parece ser a condição sobre a qual será
possível gerar as energias capazes de impulsionarem asas, mesmo que sobre a
elas, a olho nu, ainda não existam expectativas de vôo.
Quando o professor Hermógenes recomenda que o caminho seja o
estudo de si mesmo/a como pressuposto para a permanência no caminho do Yoga,
ele fala de um momento anterior em que o/a praticante em potencial assume uma
postura ética diante do próprio caos, ou seja, inscreve em sua conduta Tapah,
este Niyama (ou prescrição ética) que significa esforço sobre si próprio.
Espero ter contribuído de algum modo. Quando escrevo tenho a
mim mesma como “objeto” de observação, e penso na dificuldade que é muitas
vezes levantar da cama pela manhã, depois desenvolver disciplinadamente a
prática sozinha e, ao longo do dia, manter-me firme em busca do que me torna
uma pessoa melhor nesse mundo. Dentro da prática pessoal busco as ásanas que ajudam a desenvolver a vontade
e a coragem, e elas serão certamente objeto do próximo post.
Saudações e bom dia para vocês!
Bibliografia de referência:
FEUERSTEIN, Georg. Enciclopédia de Yoga da Pensamento. São Paulo, Pensamento, 2005.
GIL, José. Movimento Total - O corpo e a dança. Lisboa, Relógio D´água, 2001.
HERMÓGENES. Yoga para Nervosos,
KUPFER, Pedro. Formação em Yoga. Curso Livre, Módulo 1. YogaBindu, 2015.
Obrigada por compartilhar informações tão preciosas conosco. Você é um iluminada, querida. Que as Deusas continuem te abençoando.
ResponderExcluirAlbinha, agora que vejo seu comentário. Muito obrigada! Abraço grande em ti.
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