segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Sobre esforço e sobre Tapah/Tapas - “O voar não vem da asa”



Se o voar não vem da asa, de onde vem, então?
“Caminho que se faz ao andar” nunca fez tanto sentido para mim quanto nos últimos tempos. Yoga e dança povoando o pensamento e os temas de interesse pululando nas bibliografias, no corpo, na vida. De um lado referências em estudo do movimento, do outro lado referências em Yoga, e eu no meio desvendando meu corpo pelos caminhos apontados por aqueles/as que, de algum modo, fizeram o mesmo ao longo de suas vidas.
No livro “Yoga para Nervosos”  o professor Hermógenes fala, entre muitas outras coisas, de dois tipos neuróticos frequentes em seus espaços: aqueles que já desistiam do yoga mesmo antes de começarem a prática, e aqueles que encerravam a prática tão logo sentissem os benefícios iniciais. Para essas pessoas o professor Hermógenes recomendara, entre outras coisas: “Estude-se. Procure analisar-se sob este aspecto e, se notar inclinação a “cair fora”, eu lhe peço, não ceda. Continue”.
Continuar numa prática de Yoga significa (considerando os ensinamentos do professor Hermógenes): não luta, não medo, não violência e aquilo que nos interessa neste momento, esforço sobre si mesmo – Tapah ou Tapas. A questão é: se não tenho por onde começar, por onde começo? Se não tenho forças para, ao menos, iniciar meu próprio movimento, de onde devo começar? “Se o voar não vem da asa, de onde vem?” A resposta em bom “Yoguês” (neologismo, ok!) seria: vem de uma vontade e de uma coragem,  ambas conscientes, silenciosas e solitárias.
José Gil, em seu livro “Movimento Total – O corpo e a dança”, discorre sobre o início do movimento trazendo-o à tona a partir da seguinte referência à Laban: “Von Laban faz entrar em jogo uma noção central de sua teoria do movimento: o esforço e define-o como “impulso interior na origem de todo movimento” dançado ou não dançado”. Depois de uma série de desdobramentos, lança mão do silêncio relacionando-o ao vazio de quem se propõe movimentar - “Perante o vazio, está só, de uma solidão que o arranca para fora de si. Está só e fora de si”.
A aceitação da solidão como marco zero do esforço, assim como o acolhimento das tensões, instabilidades e desequilíbrios que nos atravessam a todos seres moventes parece ser a condição sobre a qual será possível gerar as energias capazes de impulsionarem asas, mesmo que sobre a elas, a olho nu, ainda não existam expectativas de vôo.
Quando o professor Hermógenes recomenda que o caminho seja o estudo de si mesmo/a como pressuposto para a permanência no caminho do Yoga, ele fala de um momento anterior em que o/a praticante em potencial assume uma postura ética diante do próprio caos, ou seja, inscreve em sua conduta Tapah, este Niyama (ou prescrição ética) que significa esforço sobre si próprio.
Espero ter contribuído de algum modo. Quando escrevo tenho a mim mesma como “objeto” de observação, e penso na dificuldade que é muitas vezes levantar da cama pela manhã, depois desenvolver disciplinadamente a prática sozinha e, ao longo do dia, manter-me firme em busca do que me torna uma pessoa melhor nesse mundo. Dentro da prática pessoal busco as ásanas que ajudam a desenvolver a vontade e a coragem, e elas serão certamente objeto do próximo post.

Saudações e bom dia para vocês!

Bibliografia de referência:
FEUERSTEIN, Georg. Enciclopédia de Yoga da Pensamento. São Paulo, Pensamento, 2005.
GIL, José. Movimento Total - O corpo e a dança. Lisboa, Relógio D´água, 2001. 
HERMÓGENES. Yoga para Nervosos, 
KUPFER, Pedro. Formação em Yoga. Curso Livre, Módulo 1. YogaBindu, 2015. 


2 comentários:

  1. Obrigada por compartilhar informações tão preciosas conosco. Você é um iluminada, querida. Que as Deusas continuem te abençoando.

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  2. Albinha, agora que vejo seu comentário. Muito obrigada! Abraço grande em ti.

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