Antes de tudo e qualquer coisa gostaria de dizer de minha grata surpresa ao “descobrir” (na verdade, ao me dar conta) que Tara Michael é uma pessoa do sexo feminino e não do sexo masculino. Infelizmente o conhecimento ainda está centralizado no sujeito masculino, e no mundo do Yoga isso não é muito diferente. Além disso, Tara é uma estudiosa no sentido mais pleno da palavra. Não sei se ela está morta ou viva, não consegui achar essa informação no Google, mas faço a opção de falar dela aqui, no presente, até porque não estaria mentindo. Ela está presente. Enfim, elucubrações a parte, “O yoga” de Tara Michael, apesar de tê-lo já há alguns anos, só me chega agora. Não digo que me chega completamente ainda. A verdade é que, apesar de ter compreendido os sentidos, muitos dos termos ainda não me chegaram. Tudo tem seu tempo. Tudo em seu tempo.
Acho
importante esclarecer aqui que a minha intenção ao longo das próximas semanas
não é resumir a obra. É expor com honestidade, de acordo com as minhas
possibilidades, a minha própria compreensão sobre os capítulos lidos e
compartilhá-la com quem tiver interesse.
"O
Yoga" é um livro complexo que, apesar de todas as traduções e explicações nos
pés de página, demanda um desejo real pela compreensão das palavras em sânscrito,
pela tradução da história do yoga pela autora e, mais que isso, um desejo de
adentrar o conhecimento do yoga para além do que a autora expõe como “Yoga para
manter-se em forma”.
Já
a partir da lista de abreviações é possível identificar as fontes de pesquisa
da autora: Bhahavad-Gitâ, Mahâbharâta, Upanishad, Yoga-Sûtra, entre outros, e a
autora o faz com a intenção de colocar “o leitor dentro da perspectiva indiana”
que, segundo a autora estaria se perdendo com a expansão e adaptação ao mundo
ocidental.
O primeiro capítulo sobre as
origens do Yoga segue à sua definição: “A palavra Yoga vem da raiz sânscrita
YUJ, que significa “atrelar, unir, juntar””. Segundo a autora, “...o Yoga
ocupa-se do homem tal como ele se apresenta em seu modo de ser habitual:
mutável, diverso, contraditório, incoerente, disperso, cego e lhe propõe um
ajustamento progressivo, culminando num perfeito domínio de seu “veículo”
psicofísico. Esse ajustamento, essa integração, colocam-no na posse de si mesmo
e lhe permitem conquistar um estado incomparavelmente superior à sua condição
atual, com o qual não ousa sequer sonhar: o estado absolutamente incondicionado, livre de todas as limitações
que a tradição indiana denomina “Liberação” (moksa), quando compara às formas
limitadas de existência, e “União” (yoga), quando se refere ao Princípio
supremo”. Pág 20
Quanto à origem, a autora tem a mesma posição
dos livros de referência aos quais já tive acesso, ou seja, de que o material
sistematizado mais antigo de que se tem notícia são os Aforismos do Yoga
(Yoga-Sûtra), compostos por Patañjali numa data que varia entre os séculos II
a. C e IV d. C. Apesar do fato de que Patañjali registrou e classificou as
práticas, existem muitas questões em torno da origem propriamente dita do Yoga.
Seguindo uma linha que eu diria quase intuitiva, a autora considera que é
possível que ideias e práticas védicas, mais especificamente aquelas que têm
relação com Tapas (geralmente traduzido por Esforço), sejam os “germes de desenvolvimentos que mais tarde
resultariam naquilo que conhecemos como o Yoga”.
Para explicar Tapas a autora
lança mão de histórias que, particularmente dispenso porque reproduzem
conceitos relacionados ao feminino e ao masculino que, ao meu ver e à luz de
nossos dias, estão ultrapassados. Em que pese este fato, Tapas é entendido como
esforço sobre si mesmo com fins de ultrapassagem de certas limitações
individuais tais como jejuar, guardar silêncio, controlar a respiração, entre
outros, tendo por finalidade acumular certa energia interior, e a partir desse
esforço concentrado, aprimorar a “resistência da natureza individual com seus
impulsos, sua dispersão, suas hesitações, suas falhas”.
A autora finaliza o capítulo
explorando o aspecto de Tapas que se distancia do sacrifício do corpo de modo
que sobre ele sejam impingidas austeridades violentas, ou seja, se
esforçar para pensar com clareza, com ausência de violência para com outrem, linguagem
amigável, com foco no silêncio, no autodomínio, enfim, diz respeito à
“perfeição do corpo e dos sentidos, e não de sua mutilação ou destruição” com o
intuito de “obter a fixidez do espírito".
Por aqui termina o primeiro
capítulo. O segundo será sobre “As bases doutrinais do Yoga: O Sâmkhya”.
Até semana que vem!
Paz para nós e todos os povos. Estamos precisando.
Abraços, Sheila _/|\_
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