sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Yoga com pessoas cegas - encerramento 2016


Na última segunda-feira, dia 05 de dezembro, realizamos a nossa última prática de Yoga do ano no Instituto de Pessoas Cegas em Recife. O Instituto entrará em recesso, mas ano que vem continuaremos firmes e fortes nesse projeto que tem sido um dos maiores aprendizados que eu poderia ter nessa vida.
Desde que o projeto começou em Abril (a partir da doação tapetinhos, tijolinhos e faixas por amigas e até por uma desconhecida que tive o prazer de conhecer a posteriori), mudanças aconteceram. Pelo menos dois alunos (uma aluna e um aluno) tiveram que ir para as cadeiras (não estava sendo possível, pelos sérios problemas de saúde, continuarem nos tapetinhos), mudamos de sala, tivemos que nos adaptar às mudanças eles e eu, e hoje eu posso dizer, sem sombra de dúvidas, que os grandes aprendizados de vida, neste ano, tive com eles. São minhas fontes de inspiração.







Muitas vezes é muito cansativo, não vou negar. Já tive momentos em que me arrependi de ter ultrapassado o número de cinco, pois a demanda é grande e eu fui aprendendo enquanto tudo acontecia: momento de entrada na sala- todos ao mesmo tempo - tropeçando algumas vezes um no outro - lugar para sapatos, bolsas, desligar celular – “qual é a tecla para desligar?” – Respira – Inspira – Expira - Descrição densa da Ásana - O celular toca - “de quem é a bolsa, de que cor é a bolsa?” (gafes e mais gafes, perdão!) - momento de levantar - todos ao mesmo tempo - é a hora do lanche - tem que ir para não perder a hora do lanche - procurar os sapatos - um abraço na professora – “Onde estão os óculos?” - Outro abraço na professora – “Onde estão as bengalas?” Obrigada, professora! Obrigada, meus amores! Obrigada, Dona Neide, Sr. José Carlos, Dione, Sr. Máurio, Ester, Sr. Reinaldo, Dona Alba, Jane, Dona Helena, obrigada!
Há sete anos aproximadamente sei que tenho comprometimento nas córneas e há um ano resolvi encarar este e outros (des) caminhos que me trouxeram para o momento presente. Muitos aprendizados e infinitas possibilidades. Sou grata por tudo. Graças a vocês, eu me sinto uma pessoa melhor. 
Hoje somos onze, vocês e eu. Termino o ano sabendo que preciso estudar mais, no mínimo, sobre a velhice e cegueira. 
A vida é simples. Muito simples. A gente só precisa ter atenção e presença.
Obrigada, vida!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Aparigraha ou não possessividade

Algo que me foi extremamente impactante no processo de formação em Yoga foi o conhecimento da existência dos preceitos éticos - Yamas e Niyamas. Alguns deles eu já tinha entrado em contato de algum modo - ahimsa (ou não-violência) certamente já tinha ouvido algumas vezes, assim como tapah ou tapas (esforço sobre si mesmo), mas eu não sabia que nesse caminho do yoga existia uma coisa tão elaborada e com tanto sentido para a vida como são os Yamas e Niyamas.
É fim de ano e, como sempre, realizo faxinão. É tempo, como em qualquer tempo, aliás, de desapegar. Nesse sentido aproveito as conexões mentais para enfatizar o Yama Aparigraha que significa "Não-possessividade" ou "Desapego". Há alguns anos eu ouvi uma história de um macaquinho e ela só veio alimentar algo que tenho dentro de mim - o desapego de coisas. Quando criança e adolescente morei em muitos lugares. Quando começava a fincar raízes meu pai era transferido em seu trabalho e lá íamos nós (eu e meus irmãos) nos adaptando a outros tempos e espaços. Apesar de ser bem desapegada de coisas, não tenho a mesma facilidade com as pessoas ou com a ideia que acabo construindo sobre as mesmas. Antes eu não tinha clareza sobre isso, e ter essa clareza tem facilitado esse processo doloroso de abrir mão, deixar ir, deixar ser fim, aceitar a impermanência de tudo, buscar outros caminhos, "largar as bananas".
A história do macaquinho é uma pequena e triste história sobre a ausência de habilidade com o desapego. Sempre penso nela quando estou diante de situações me transmitem alguma sensação de aperto, limitação, prisão, ou seja, qualquer coisa que limite minha expansão, meu respiro, meus espaços. Fui tentar a história na internet para talvez contá-la com mais detalhes e a encontrei num blog de conteúdo empresarial, o que achei bem curioso (o link segue abaixo). A história conta que "Tribos africanas desenvolveram um método inteligente para capturar os macacos, animais que pulam de galho em galho entre as árvores que dificultam a sua captura. A armadilha funciona com uma banana como isca dentro de uma vasilha feita com boca estreita, onde o macaco coloca a mão dentro mas não consegue tira-la fechada agarrando a banana. Por instinto, o animal continua tentando pegar a banana mas acaba com um final trágico, capturado pelos nativos como alimento".
O macaquinho podia tirar a mão de dentro da garrafa, mas para isso ele precisava abrir mão da banana. Parece fácil olhando de longe, mas a maioria de nós primos-irmãos dos macaquinhos estamos cotidianamente caindo em armadilhas que nos prendem (adoecendo, silenciando, matando aos pouquinhos) simplesmente porque estamos apegados às bananas ou à ideia que fazemos dela. Identificar a banana que te prende e se desapegar dela é um passo decisivo na vida. Liberar-se de objetos antigos (ou sem uso), de relacionamentos tóxicos, de concepções de trabalho e de relacionamentos é uma imensa porta para liberdade. É espaço em todos os sentidos. Expansão, pulsação.
Aparigraha é liberdade. É vida.
(https://laboratoriumbr.wordpress.com/2012/06/21/larga-a-banana-mude-de-estrategia-para-nao-cair-na-armadilha-do-macaco/)