Os escritos a seguir resultam dos estudos relativos ao Módulo Dança e Técnicas aplicadas à saúde (Educação Somática) .
Deveria ter uma linguagem acadêmica, com direito a citações e regras da ABNT, mas o meu momento é poesia. Tenho respeitado o meu momento.
Das somas de tanto
fui gerada
e
por agora existo.
Adiciono-me,
multiplico-me,
dividido-me.
Somo.
Retiro-me do ontem
e do amanhã
para o agora
em alma e corpo
Estou.
Soul e Soma,
Sou.
08/11/2016
Do contato com a dança
aprendi a me sentir à vontade com minhas possibilidades, gestos, quebras,
circularidades. Aprendi a acompanhar o giro do olhar pelas mãos, e entendi os
riscos, traços e rabiscos dos meus passos seguros ou cambaleantes pelo solo,
com as texturas, cores e sabores da minha pele.
A dança é um sonho que
torno realidade a cada movimento que meu corpo ensaia, a cada
tridimensionalidade que meu horizonte espreita, a cada conhecimento que meus
poros absorvem ou expurgam, por cima, baixo, dentro, fora, tórax – cabeça –
costela, pelve-cabeça, cabeça-tórax, externo-interno.
Meu corpo, matéria prima de
poesia. Soma.
Caminho pelo espaço que é
meu – cinesfera - lugar dos meus ruídos. Meus. Estes por dentro do espaço que
também é do outro – global. Perco-me e alí me encontro. Nada sou além de mim em
minha composição corpórea, biológica, sensório-motora e isso é estar plena.
Esse nada é tudo.
Transgrido-me pela variação
dos meus circuitos, escolho entre diferentes caminhos aquele que me parece o
mais apropriado, caminho pelos novos conceitos que adentram meus sentidos.
Minhas experiências. Minhas fontes de conhecimento.
Verticalização,
horizontalização. Sento, deito, em pé caminho, foco o outro, o outro me foca.
Sou afetada. Crio-me e recrio-me, reinventando sistemas autopoiéticos. Sou a
ameba da enação. Carrego em mim a memória do que sou. Minha saliva, minhas
vivências, minhas relações, minhas práticas, meus automatismos, meus
não-sei-o-quê.
Alexander – Mathias e
Gerdha, Feldenkrais, Vianna, Thomas Hanna, Sylvie Fortin, amebas contorcidas em
torno self. Dedos dos pés, couro cabeludo, pele, temperaturas, marcas,
cicatrizes, ossos, calos, nervos, peso, volume. Tônus. Subversão do mecanicismo,
conexões corpo, cérebro, ambiente – sinestesia. Na parte do meu corpo que toco
há política, na parte do corpo que não me toca também.
Em mim, sozinha ou com o
outros, cartografias de afetos desenhadas em oposição ao ethos moderno do
desamor – o não toque, o não saber, a desapropriação, despropriocepção. Na
oposição, escuta interna, micromovimentos, observação, intuição, ética transbordada
pela potência dos afetos: “quanto um corpo pode ser afetado?”
Afeto-me pelas entranhas em
contato com a criação que fiz de mim – pulmões como asas! – “Ah asas, por
favor, voem!” , corpo no chão como semente: “Ah semente, por favor, germine!”. Não
por favor atravesso-me por vetores. Aceito-os. Descubro-os como soma. Juntos.
Corpo. Usufruo: metatarso, calcâneo, púbis, sacro, escápulas, cotovelos,
metacarpo. O que dizes de mim sétima vértebra cervical?
Meu corpo fala de mim. Não.
Ele se diz de si como quem pula sobre a própria sombra. No pulo: a queda. O
chão que acolhe. Momento do reconhecimento das fontes de apoio do corpo no chão
e no espaço. Espaço da dor, mas também da cura.
Cura.
Soma. Soul.